Foto: Acervo pessoal
Os números são impactantes: segundo levantamento publicado este ano pela ONU, mais de 700 milhões de pessoas passam fome no mundo – e, deste montante, 33 milhões são brasileiros. Isso corresponde a 15,5% da população do País, o que representa um aumento significativo nos últimos dois anos (quando a falta de comida atingia 14 milhões de pessoas).
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Do outro lado do balcão, o que preocupa é o desperdício, que equivale a 17% dos alimentos disponíveis para a venda e a alta dos preços dos artigos considerados saudáveis (com o detalhe de que os fornecedores dos insumos “orgânicos” não desfrutam de quase nenhum conforto financeiro). Ou seja, o que está dentro das possibilidades de grande parte dos consumidores são itens industrializados, potencializados com aditivos de baixa qualidade e sem valor nutritivo ou impregnados com overdoses de agrotóxicos. Mas qual é a razão para que isso aconteça?
A empreendedora Priscilla Veras se fez exatamente este questionamento – e foi graças as suas dúvidas que ela resolveu deixar a carreira estável para entender toda a linha de produção – da plantação à colheita, passando pela logística e o desembarque nas prateleiras dos estabelecimentos comerciais.
“Como pode a comida saudável ser caríssima se os produtores continuam empobrecidos? O preço dos orgânicos não tem reajustes há mais de dois anos, ainda assim, as redes varejistas seguem praticando os valores que eles desejam. E isso, evidentemente, não é repassado ao fornecedor”, relata.
Depois de visitar centenas de propriedades rurais, ela notou que os pequenos agricultores eram os mais vulneráveis, já que não tinham conhecimento dos trâmites básicos das negociações. Foi aí que ela teve o insight de investir em uma startup que fizesse o elo entre o campo e os pontos de venda, retirando de cena os intermediários.
Foto: Acervo pessoal
“A maioria dos produtores não conta com sistema de distribuição próprio, emissão de nota fiscal e sequer sabe falar com os compradores de grandes empresas. O que os coloca nas mãos de uma porção de atravessadores. E é neste momento que a mercadoria encarece. O objetivo da Muda Meu Mundo (MMM) é tirar as barreiras e fazer a transação de ponta a ponta, diminuindo o tempo de entrega das frutas, das leguminosas, das hortaliças e das verduras frescas para até 12 horas, beneficiando os produtores, cuja renda aumenta em 100% em aproximadamente seis meses, e os clientes finais, que conseguem comprar os mantimentos com redução de até 70%”, explica.
De acordo com as expectativas de Priscilla, a meta era fechar 2022 com mil lavradores cadastrados. “Hoje temos 500 registrados, localizados em São Paulo e no Ceará, sendo dois em regiões quilombolas e um em área de assentamento agrário. Outro dado importante é pontuar a presença feminina no comando de 37% dos negócios”, diz.
Por meio de uma plataforma interativa, a MMM elabora conteúdos com temas importantes para manter a produção familiar (que corre o risco de acabar como herança e migrar para os commodities), expostos em seus canais no YouTube e no Facebook. A startup também auxilia em temas como compreensão do desperdício, distribuição de microcrédito, adiantamento de recebíveis, logística, rastreabilidade e implementação da cultura da agricultura regenerativa.
“O pequeno produtor não trabalha com monocultura. O que queremos é mostrar a eles como usar os recursos da floresta sem desmatá-la. Como melhorar o solo dispensando os químicos nocivos. Por exemplo, a salsinha é perfeita para espantar a praga que ataca a cenoura. Então, isso é a aplicação da agricultura regenerativa e da sustentabilidade, que contamos com a parceria da Embrapa. Se usarem as soluções corretas hoje, não haverá escassez no futuro”, finaliza.
O post Mulheres que Inspiram: Priscilla Veras comanda startup que beneficia os pequenos agricultores apareceu primeiro em Harper’s Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.
