SP-Arte abre espaço fixo na capital paulista com exposição dedicada a Hélio Oiticica
Bólide caixa 08, de 1964, está na exposição ‘Mundo-Labitinto’ em cartaz na Casa SP-Arte (Foto: Divulgação)
A SP-Arte abre as portas de seu primeiro espaço fixo dedicado a exposições e encontros, em São Paulo. O lugar fica localizado no coração dos Jardins, em uma casa com arquitetura assinada por Flávio de Carvalho (1899-1973), na Vila Modernista. O casarão, datado dos anos 1930, reabre ao público neste sábado (18.03), com a exposição Mundo-Labitinto de Hélio Oiticica (1937-1980). A organização é da Gomide&Co em parceria com o instituto responsável por manter viva a obra do renomado artista.
Bazaar esteve na Casa SP-Arte antes de abrir as portas e mostra vídeos nas redes sociais do lugar, já ocupado com cerca de 20 obras de Oiticica. “O que é muito interessante da exposição foi termos conseguido reunir, na escala de uma casa, um conjunto sucinto e conciso que percorre várias fases importantes da obra do Hélio, que começou a produzir em meados dos anos 1950 ainda adolescente”, conta Luísa Duarte, diretora artística da Gomide&Co, que organiza a mostra. “Tem obras que apresentam a produção desse período, datadas de 1955 e 1956, quando ele estava no Grupo Frente (considerado um marco no movimento construtivo das artes plásticas), no Rio de Janeiro”, detalha Luísa.
Casa SP-Arte, que abre as portas neste sábado (18.03), é assinada pelo arquiteto modernista Flávio de Carvalho (Foto: Divulgação)
Há ainda uma série de meta-esquemas, de quando o artista ainda estava fazendo suas investigações sobre o plano bidimensional. “Tem também exemplos desse outro momento da obra do artista, como um grande relevo espacial vermelho que flutua sobre o teto em diálogo com o penetrável, que convida a cada um de nós para adentrarmos à obra”. Em exposição, o primeiro penetrável é datado de 1971 e está bem no centro da casa.
Na mostra, a cor ganha corpo – como pedem os experimentos de Oiticica –, onde o amarelo vai se intensificando e ganhando texturas, que acompanham toda a mostra. “A cor pode ser, literalmente, tocada. Tem desde um espelho e madeira a tecidos… Essa cor vai ganhando corpo”. Quem visitar a exposição vai poder, também, usar a réplica de um dos parangolés, obra vestível em forma de capas de tecido, que tem relação com a dança. “É uma série de trabalhos onde o artista começa a pensar sobre o tema, resultado de uma relação muito orgânica e intensa com o Morro da Mangueira, onde está situada a escola de samba”.
Antiga casa é datada da década de 1930, nos Jardins (Foto: Divulgação)
COSMOCOCA
Outro trabalho importante em exibição é uma versão doméstica da Cosmococa (CC4), palavra inventada pelo cineasta Neville d’Almeida, parceiro de Hélio nesses trabalhos. Essas instalações mesclam cinema, pintura e música e, cuja versão maior, está localizada em Inhotim. Nesse formato nunca havia saído do papel. “Traz imagens que evocam o trabalho do grande compositor John Cage em uma trilha sonora mesclada à leitura de um poema de Augusto de Campos na voz de Caetano Veloso, em uma gravação de 1973″, pontua Luísa. Esta é uma das mais importantes à mostra, pois marca os 50 anos da primeira Cosmococa.
Ajeitando os últimos detalhes antes de abrir ao público, o cineasta Neville d’Almeida conta à Bazaar: “Existem muito poucos artistas que fazem a obra e a obra fica”. Para ele, o que geralmente acontece é que as obras perdem a importância, o valor e o momento. “O importante é a obra durar e não ser superada. Não aparecerem novas que possam causar o mesmo impacto. Que tenham a mesma força e possam conseguir essa interferência”.
Para ele, a relação com a obra não tem um momento de cansaço, de dar de ombros e não querer mais se envolver. “É dinâmica existencialmente, espiritualmente, artisticamente e culturalmente e socialmente, também. São interferências, interconexões. O papel da obra de arte é tornar possível os diálogos, as experiências dramáticas e emocionais que envolvem o ser humano. Abordar as questões mais importantes, trazer sentimentos, estimular sonhos, buscar ideias. Essa forma de atingir as pessoas”, conclui.
Cosmococa CC4, de 1973 (Foto: Divulgação)
PRESENTE PARA A CIDADE
Nos quase 20 anos de SP-Arte, tendo ocupado o Pavilhão da Bienal e da Arca – para citar alguns espaços – esta é a primeira vez que a feira tem lugar para chamar de seu. Como conta a Diretora de novos negócios da feira Tamara Perlman, a Casa simboliza um passo de abertura para a cidade. “Casa importante assinada pelo arquiteto modernista Flávio de Carvalho, no coração dos Jardins, e cujas características foram mantidas e agora será possível visitar”. Tamara reforça a iniciativa de abrir a casa com a expo de Oiticica, pois ambos foram artistas “igualmente inovadores e precursores”, que influenciaram as gerações que vieram depois. A Casa é uma parceria da SP-Arte com a Gomide&Co, dona da casa e onde funcionava a antiga sede da galeria antes de se mudar para a Avenida Paulista.
“A gente sentia a necessidade de ter um lugar para dar vazão a projetos e que, não necessariamente, cabem em um evento de cinco dias, como é uma feira (de arte)”, detalha Samara. “Uma das ideias da casa é poder oferecer um lugar para que galerias que não estão sediadas aqui – de outras cidades ou países – poderem vir para São Paulo mostrarem o papel artista e chegarem aqui na enriquecendo a cena cultural da cidade, dando mais conhecimento e mais amplitude para esses artistas”.
Espaço fica na Vila Modernista, nos Jardins, em São Paulo (Foto: Divulgação)
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