Adeus ao passado: como foi o desfile de estreia de Daniel Lee na Burberry?
Burberry, outono-inverno 2023 (Créditos: Divulgação)
Meses depois de ser anunciado como o novo diretor-criativo da Burberry – seguindo a saída de Riccardo Tisci em setembro do ano passado – o ex-Bottega Veneta Daniel Lee estreou seu primeiro desfile na Burberry nesta segunda-feira (20.02), durante a Semana de Moda de Londres.
Mesmo antes do aguardado début, a chegada do britânico já havia trazido mudanças significativas para a marca fundada em 1856, incluindo uma identidade visual revitalizada que substituiu o rebranding proposto por Tisci e o designer Peter Saville ainda no início do que viriam a ser cinco anos do italiano na casa. O logo e monograma inéditos agitaram as redes sociais em 2018, mas já foram deixados para trás sob a nova direção de Lee.
E se a estreia de Riccardo, em setembro daquele ano, foi um mergulho nos arquivos da marca (com incontáveis trench coats entre os 134 looks, repensados em visuais que celebravam a cultura britânica, do punk à era Thatcher), a tour de force da vez, comandada por Daniel Lee, trouxe a Burberry sob um prisma menos pretencioso e nostálgico.
No sul da capital inglesa, o desfile de estreia trouxe uma visão que teria feito editores de moda dos anos 1990 tremerem: o grunge. Esse estilo despojado, andrógino e desleixado, adotada por subculturas do rock, vem com ares de brechó que, nas mãos de Daniel Lee, ganham outras dimensões. O mood jovial e provocativo (nos moldes do humor inglês) estava lá. Além das fugas da paleta majoritariamente sóbria, gorros e estampas em formato de pato surgiram na passarela um pouco como alívio cômico, muito como comentário social.
A combinação de galochas e estampas xadrezes (foram muitas, em cores diversas) evocou a imagem clássica da elite aristocrática do English countryside, cujo principal passatempo é a caça. E foi impossível não enxergar a imagem das vítimas nos looks. Tudo era falso, claro, já que desde 2018 a Burberry não usa peles animais, mas as aplicações felpudas foram presença em peso. Chapéus, casacos, golas de trench coats, casacos, bolsas e até sapatos surgiram cobertos de pelúcias, no que pareciam lebres e coelhos recém tirados dos hunting lodges escondidos no campo. As aves também foram alvo, com plumas e penachos evocando faisões e outros passarinhos capturados.
O tratamento mais sensível foi dedicado às rosas, que inspiraram e floresceram, literalmente, em acessórios e estampas. Na Inglaterra, a flor traz à memória a Guerras das Rosas que, no século 15, definiu o destino do trono inglês. A associação pode parecer distante no imaginário moderno fashionista, mas no reinado recente de Elizabeth II, a Burberry recebeu aprovação dupla da família real, se tornando fornecedora de artigos de luxo para a rainha e o príncipe (agora rei) Charles III, cuja coroação acontece em poucos meses.
Nesse sentido, o destino da marca segue um mistério, mas o lema da casa, acompanhado da imagem de um cavaleiro montado, oferece um vislumbre: “Prorsum”, para frente, em latim. É nessa direção em que a moda pode esperar encontrar Daniel Lee. Uma boa pista? Quase não se viu a gabardine, tecido tecnológico icônico criado e patenteado por Thomas Burberry em 1879, quando a marca ainda era a “Burberry’s”. E tempos modernos, afinal, pedem visuais modernos.
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